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o método científico

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O método científico, o novo paradigma

de ciência no Século XX e a sistemática: 

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Em geral, usa-se o termo "método científico" para designar um conjunto de princípios e procedimentos que se deve seguir na busca dos conhecimentos científicos. As bases do método científico foram lançadas pelo filósofo, físico e matemático francês René Descarte, ainda no século XVIII, considerando, também, ideias propostas por outros cientistas nos séculos anteriores. O princípio básico introduzido por ele na atividade científica foi o princípio da dúvida, segundo o qual nenhuma ideia ou explicação deve ser considerada verdadeira se isto não puder ser demonstrado.

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Foi o filósofo austríaco Karl Popper, contudo, quem delineou  o conceito dominante de método científico na atualidade, com a introdução da ideia da falseabilidade*. Segundo Popper, uma ideia ou explicação só pode ser considerada como uma hipótese ou teoria científica, se ela trouxer consigo a possibilidade de ser testada e de se demonstrar que ela é falsa. Segundo ele, a ciência não deve tentar (e não pode) comprovar que uma ideia é correta ou verdadeira, mas deve tentar demonstrar que ela é falsa. Sob esta perspectiva, nenhuma teoria científica pode ser considerada como verdade, mas apenas como uma verdade provisória, que ainda não se demonstrou errada (um exemplo simples de hipótese não falseável foi apresentado por Carl Sagan, no capítulo "O dragão na minha garagem" do livro "O mundo assombrado pelos demônios". Um pequeno trecho e uma breve discussão sobre este capítulo podem ser vistos aqui). Experimentos ou observações são planejados como tentativas de se demonstrar que a hipótese ou teoria a ser testada é falsa. Se a falsidade da hipótese é demonstrada, ela é abandonada; se não se consegue demonstrar que ela é falsa, então se diz que a hipótese foi corroborada* pelo experimento ou observação. Uma propriedade importante de um experimento científico é sua replicabilidade: ele deve poder ser repetido por outros pesquisadores. Por isto, ao apresentar seus resultados e conclusões, um cientista deve descrever minuciosamente seus procedimentos experimentais (método) para que outros possam reproduzi-lo e verificar os seus resultados. Nossa confiança em uma hipótese explicativa aumenta, na medida em que ela é corroborada por mais e mais desses experimentos e hipóteses que têm sido inequivocamente corroborada pelos testes, eventualmente, alcança o status de teoria. Contudo, um bom cientista deve estar sempre preparado para aceitar que uma hipótese de sua confiança, ou mesmo uma teoria, seja, algum dia, refutada*, mostrando-se uma explicação falsa ou incompleta para um fenômeno natural.

 

De forma simplificada, pode-se dizer que o método científico envolve os seguintes passos:

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  1. Observa-se um fenômeno natural;

  2. Propõe-se uma hipótese explicativa para o fenômeno (explicação provisória, a ser testada);

  3. Planeja-se um experimento que possibilite definir claramente se a hipótese proposta é falsa ou não (isto em geral envolve uma predição: se a hipótese for correta, então, se eu fizer "isto", "aquilo" deve acontecer);

  4. Executa-se o experimento:

  • se a resposta prevista a partir da hipótese se concretiza, a hipótese é corroborada pelo experimento e permanece como uma explicação provável do fenômeno; ou

  • se a resposta prevista a partir da hipótese não se concretiza, a hipótese é refutada e busca-se uma explicação alternativa para o fenômeno, voltando-se ao passo 2.

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Os grandes avanços observados ao longo do século XX, em ciências como a física, a química e em várias áreas da biologia, como a genética, a fisiologia etc, se devem à aplicação rigorosa deste protocolo de trabalho (veja mais sobre o método científico, aqui). Note, contudo, que há áreas de conhecimento em que este paradigma metodológico não se aplica. Algumas dessas áreas são as chamadas ciências históricas, que lidam com informações referentes a eventos ocorridos no passado. O exemplo mais óbvio é o da história das civilizações. Podemos, por exemplo, levantar a hipótese de que Napoleão perdeu a guerra que empreendia contra as monarquias europeias, por ter invadido a Rússia no inverno. Porém, como poderíamos montar um experimento para tentar refutar esta hipótese? Não podemos recriar os exércitos europeus e toda a conjuntura política e econômica daquele continente, àquela época, e fazer um experimento, por exemplo, em que Napoleão invadisse a Rússia no verão. Outros exemplos de ciências históricas seriam: a cosmologia, que trata da história do universo; a geologia histórica, que trata do desenvolvimento geológico do planeta Terra desde sua origem; e a paleontologia, que estuda a origem e o desenvolvimento da vida na Terra ao longo do tempo. Os eventos estudados por todas essas ciências se desenrolaram ao longo do tempo e não há como retornar ao passado ou reproduzi-lo para observar eventos já ocorridos, e não há como fazer com que os eventos passados se repitam para que possamos observá-los. Precisamos, portanto, de outros métodos para estudar os eventos históricos. 

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Também a filogenia (as relações filogenéticas entre os organismos) resulta da sucessão de eventos históricos: cladogêneses, produzindo novos ramos evolutivos, e anagênese promovendo modificações em cada uma das espécies, ao longo de sua existência. Esses processos evolutivos, por sua vez, são influenciados por eventos geológicos, como deslocamento de continentes, mudanças climáticas, soerguimento* de montanhas, desenvolvimento e/ou desaparecimento de mares continentais etc. Portanto, a rigor, hipóteses sobre o relacionamento filogenético são construídas como na história das civilizações - com base em 'documentos' e 'evidências arqueológicas'. Neste caso, esses documentos seriam as características hereditárias compartilhadas pelas espécies viventes e fósseis...

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Vocabulário

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  • Corroborada: confirmada, comprovada.

  • Falseabilidade: propriedade de uma hipótese ser demonstrada como falsa.

  • Refutada: desmentida, rejeitada.

  • Soerguimento: elevação.​

Sagan
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